QUEM SOU EU?
Sou a filha da Selma, filha mais velha.
Sou a continuação da história de uma mulher forte, resiliente e batalhadora;
Sou a filha que viu todos os seus choros antes e - principalmente - depois do casamento de dez anos, acabado, dela com meu pai;
Sou a filha que nasceu com os dentes caninos saltados como de um vampiros, iguais aos dela;
Sou a filha que não nasceu com seu tom de melanina, mas que veio com traços indiscutíveis de sua personalidade contundente;
Sou a filha que se tornou seu braço direito quando nasceu sua segunda filha, Teté (Depois também viria a Fifia).
Sou a filha que acompanhava para cima e para baixo em suas andanças (ela não me dava opção);
Sou a filha que sabia antes dela me dizer;
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Sou a filha que ao chegar em casa recebeu ligação contando que sua mãe estava na ala de Emergência do hospital;
Sou a filha que aprendeu tudo o que podia sobre meningite;
Sou a filha que a assistiu na UTI, no quarto da enfermaria, no corredor do hospital, na ambulância do SAMU;
Sou a filha que a banhou, que ajudou a enfermeira a colocar sonda, que chegou a trocar sua fralda várias vezes;
Sou a filha que deixou o emprego e faculdade pra cuidar dela;
Sou a filha que controlava seus remédios e vigiava para ela ser bem cuidada;
Sou a filha que acordava quando ela queria fugir no meio da noite, do hospital, sem poder nem andar;
Sou a filha que a abraçou para se sustentar no meu corpo e conseguir dar seus novos primeiros passos, depois de dois meses acamada;
Sou a filha que aprendeu a ter sono leve e perceber todas as vezes que ela se levantava cambaleando da cama;
Sou a filha em ouve o zunido dos sons repetitivos dela nos ouvidos;
Sou a filha que organizou “bolinhos de aniversários” surpresa pra ela;
Sou a filha que fala pra ela ter a esperança de um dia voltar a ouvir;
Sou a filha que a viu dar escândalo várias vezes na rua - pós meningite
Sou a filha que a segurou esperneando enquanto ela tomava ponto na cabeça, na bunda, por ter pulado inconsequentemente de um muro de 3 metros;
Sou a filha que aprendeu a ler as bulas dos remédios controlados dela;
Sou a filha que conhece os motivos de todos os seus choros exaustivamente repetidos;
Sou a filha que a única resposta que encontrou foi amá-la incondicionalmente;
Sou a filha da Selma, é tudo o que tenho sido.
O QUE FAÇO?
Faço gerenciamento de certificação ambiental,
Faço teatro, faço uns desenhos de gaveta,
Faço poesia quando ela chega,
Faço do cabelo a careca pra arejar a cabeça,
Faço sonhos todos os dias, o que me ajuda a fugir do meu próprio vendaval